O meu barbeiro tem 70 anos mas parece ter 65, careca mas de cabelo comprido colado à cabeça e que faz uma onda por cima do colarinho, é magro, tem dentes grandes de fumador e alguns já sumiram, fuma mas apaga a ponta do cigarro enquanto corta o cabelo e às vezes a meio reacende-a dá umas passas e volta a apagar, usa sempre gravata, as calças acima do umbigo e camisas justas, veste-se em tons de castanho ou preto, é do Porto, tem um bigode farto, é machista extremista, fez a guerra em Moçambique, passa férias numa roulote em Vila Nova de Milfontes, é racista, tem um peugeot cábrio que acaba de pagar em Março, o carro da mulher pagou-o o ano passado, cobra 10€.
Hoje enquanto estava à espera da minha vez ele perguntou orgulhoso ao cliente meu antecessor: - Sr Matias, sabe há quanto tempo eu corto o cabelo? Há 55 anos! – disse ele orgulhoso, como de todas as outras vezes que lá fui. Responde o outro: - É natural, como não sabe fazer outra coisa… e um Homem tem que trabalhar para ganhar o seu. O Barbeiro nem piou.
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