domingo, janeiro 20, 2008

Espera.


Por muitos avanços que a medicina faça há um mal que parece não ter solução. Não, não estou a falar da cura do cancro, da sida, do joelho do Mantorras…falo do tempo de espera no consultório. As técnicas de diagnóstico e tratamento evoluem, mas não há maneira dos médicos perceberem o tempo médio de consulta e organizarem melhor a agenda de maneira que os doentes não esperem tanto.

A desculpa parece ser sempre que “…a primeira consulta atrasou…”. Desconfio que quando Adão foi ao médico para tentar perceber o que tinha na garganta a consulta atrasou uma hora porque Deus ainda não tinha criado o estetoscópio. A partir daí todas as marcações seguintes atrasaram até hoje e ele esperou tanto tempo que o caroço de maçã solidificou tornando-se numa imagem de marca masculina.

O mais curioso é no meio de tantos doentes não haja um ou outro cuja consulta demore menos tempo do que o previsto e compense outra que tenha demorado mais. Provavelmente quando isto acontece o médico aproveita para completar as lições do Planeta Agostini “A Arte e Segredos dos Hieróglifos em 100 lições”. Ou vocês julgavam que aquela letra de médico era obra do acaso? Não. É fruto de muitas horas de dedicação e treino.

As coisas chegaram a tal ponto que a reputação de um médico é medida pelas horas de espera e pela letra mais ilegível. Se esperamos muito tempo não é porque o médico é desorganizado ou displicente em relação a horários. É porque é bom. E se esperamos muito, ele é muito bom. Mas mesmo sabendo que vão fazer esperar os doentes os médicos não fizeram das salas de espera um espaço acolhedor. As salas de espera têm cadeiras desconfortáveis e muito próximas umas das outras. A ideia parece ser que quem não está doente fique rapidamente com os micróbios que pairam no ar, logo garantido mais clientela. E com o acumular da espera e de doentes esta probabilidade vai aumentando.
As revistas antigas também fazem parte desta estratégia, como não têm nada de interessante as pessoas acabam por conversar facilitando a emissão de micróbios (no outro dia apanhei uma revista tão antiga que o Nuno Graciano ainda tinha cabelo!). A única desculpa aceitável para o médico se atrasar seria “desculpem lá, mas tive que ir ali ao quiosque comprar umas revistas novas…”

O nosso sistema de saúde não é mau, nem as listas de espera são um problema. Pelo contrário, são uma evidência de qualidade. Se esperamos muito é porque o médico é muito bom, e se queremos qualidade temos que esperar. Exemplo disto é a história do filho do ex futebolista Néné. Ele em novo teve um problema num dente e tinha duas opções: ou esperava 2 anos por uma consulta e mais 10horas numa sala de espera; ou ia de imediato a um médico muito rápido com letra de professora da escola primária. Não quis esperar e optou pela segunda opção e vejam o que lhe aconteceu, entrou lá Paulo, saiu Filipa Gonçalves.


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