quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Só eu sei porque fico em casa.


Tinha 13 anos, embrulhava o cachecol de lã ao pescoço apanhava o 31 até ao final da Av.Brasil e seguia a pé até ao estádio de Alvalade. Eram assim quase todas as tardes de domingo que o Sporting jogava em casa. Ia sozinho, comprava bilhete de sócio para a superior sul e sentava-me do lado direito da Juventude Leonina. Por vezes saltava a rede e aventurara-me para os lugares cativos da central. Em alguns jogos mudava de “superior” no intervalo para estar sempre nas traseiras da baliza onde entravam os golos do Sporting. No fim do jogo escrevia no bilhete o resultado e os marcadores dos golos. Os bilhetes eram religiosamente guardados num guarda jóias herança de uma Tia Avó ao qual a minha mãe não dava uso e que me ofereceu para guardar as minhas preciosidades. Não havia lugar mais indicado para tal tesouro.

Recordações são muitas. Os 7-1 ao Benfica. Desde dos 3-1 que estádio girtava “só mais um, só mais um” e o Manuel Fernandes ia fazendo a vontade. Um jogo da taça com o Porto em que fiquei na superior norte ao pé dos Super Dragões e de repente a Policia à paisana desata por ali a cima à bastonada depois de alguém ter gritado ao homem do trompete “meta a corneta no cu!!!”. Nesse mesmo jogo, no final, fiquei retido pela polícia de choque junto à porta 10A e foi graças a eles que consegui um autógrafo do Douglas, do Peixe, do Luisinho… Nessa mesma altura as claques eram corridas à bastonada onde hoje é a estação de Metro. O golo de bicicleta do Juskowiak num 4-0 ao Boavista. Durante vários jogos o Figo foi substituído e vaiado em peso enquanto fazia o percurso até à superior Sul, mal sabíamos nós no que se ia tornar.... O Cadete a falhar em cima da linha o golo que dava a vitória da eliminatória sobre o Real Madrid. O Jorge Costa a acariciar o “baixo ventre” do Jorge Couto na celebração de um golo ao Ivkovic que nos eliminou da taça. O golo do Cherbavov, que na sequência do canto recebe a bola na entrada da áera e sem a deixar tocar na relva dispara uma bomba para a baliza. O Leão de margarina que deu a volta ao tartan na celebração do titulo com o Inácio…

De todos estes momentos passados em Alvalade apenas este último foi uma vitória, uma conquista, a celebração de um título. Todos os outros eram momentos de verdadeiro prazer, mesmo que o resultado não fosse o que desejava, era uma satisfação ver os meus ídolos em campo. Em nenhum desses momentos menos bons senti a desilusão que hoje sinto ao ver o Sporting jogar.

O Sporting de Paulo Bento é a primeira equipa do Sporting que eu oiço dizer que tem um “sistema de jogo”. Nunca, como agora, eu ouvi falar tanto num sistema de jogo. A verdade é que esse sistema não funciona e parece que o responsável não tem solução. Por exemplo: quando se joga 3 vezes com uma equipa (Setúbal) que, unanimemente, se diz que tem um plantel inferior e não se consegue ganhar, alguma coisa se está a fazer errado. Quando à segunda e à terceira tentativa não se percebe o que se está a fazer errado tem que se substituir o responsável.

Muitos defendem dizendo que o Paulo Bento deve ficar muitos anos, ser o Fergunson do Sporting. Não é comparável. O Paulo Bento não tem currículo. Nada prova que o homem tem capacidade. Um campeonato de juniores, uma taça e uma supertaça não são suficientes para justificar a aposta num treinador que no imediato não dá provas do seu valor. Já para não falar dos milhões que MUnited tem para comprar jogadores e para formar equipas, até o Camacho ganhava títulos em Manchester. É óbvio que este treinador já não tem discurso para os jogadores, já não tem forma de os motivar. São demasiadas más exibições, maus resultados, os jogadores perderam a confiança. Ao presidente falta-lhe o brilho nos olhos que tinha o tresloucado Sousa Cintra cada vez que falava no seu "Sportem". Muitas asneiras se fizeram, mas era um discurso de vitória e de ambição, não de contenção e meramente empresarial. Para isso já bem basta a vida de cada um de nós, com os spreads, as contas, o trânsito... O futebol é um escape para tudo isto e por isso tem que ser gerido com mais risco e emoção, tendo como objectivo final a vitória, no minimo o entretenimento e o orgulho na equipa.

Rapidamente o Sporting tem que definir um novo rumo, porque sem exibições, sem resultados não há adeptos. Sem adeptos não há dinheiro. Esta estratégia “racional” de contenção financeira não é compatível com um desporto que é movido e vivido por um sentimento tão primário como a emoção.

4 comentários:

J G disse...

excelente prosa!
como eu te compreendo meu caro...

Anónimo disse...

O melhor do sporting são as recordações

leao.xxi disse...

Como compreendo esse teu sentimento, é comum a muitos sportinguistas!!!!!!!

@martasta disse...

bem te compreendo ... e sou do inimigo lol quando todos vêem o que está mal menos o treinador... então quem está errado? (o meu trinador culpou os jogadores mas eu acho que ele não era digno de tais jogadores...)
Mas tem calma, o p. Bento tem feito um trabalho de raiz, pode ser que dê os seus frutos!